quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O EAD no sistema prisional brasileiro


Ao ver na mídia gaúcha o desenrolar do caso do presidiário Eder da Silva Torres, aprovado no processo seletivo para o curso de Direito na Universidade de Caxias do Sul (UCS), não imaginava que me questionaria quanto ao EAD no sistema prisional brasileiro. E isso realmente pode ser um item transformador dentro das prisões, as quais na maioria das vezes, e ainda mais no sistema gaúcho, não oportuniza sequer um ambiente razoável de trabalho.

O caso terminou com a impossibilidade de Eder frequentar as aulas, pois não terá escolta. Conforme a Superintendência dos Serviços Penitenciários do RS, não há funcionários suficientes para acompanhar o detento e também "para não gerar precedentes". Pela  alteração na Lei de Execução Penal, haveria redução de um dia na pena de Eder a cada 12 horas de estudo. Polêmicas à parte, para Denise Carreira, relatora nacional para o direito humano à educação, isso vem acontecendo pois dos poucos detentos que passam em vestibulares, acabam por não continuar os estudos pois a escassez de funcionários para escoltas é aparente.

Para Carlos Fernando de Faria Kauffmann, advogado e professor de Direito Penal da PUC-SP, além dos presídios firmarem convênios com as universidades com o objetivo de disponibilizar meios de ensino interno, uma das alternativas seria trazer novas oportunidades de ensino a distância para dentro do sistema prisional de modo que "ninguém deixaria de estudar por burocracias".

Para quem não sabe, Fernandinho Beira-Mar, em 2010 também solicitou à Justiça Federal de Mato Grosso do Sul autorização para utilizar um computador e internet durante o curso a distância de Gestão Financeira, mas teve o pedido negado por "falta de infraestrutura".

Dentro do que vem sendo estudado no curso de pós em Metodologia e Gestão para EAD da Anhanguera, notei que essa é uma discussão que não está sendo trabalhada nos modelos educacional e judiciário brasileiro, e principalmente nas rodas pensantes do EAD. Ao menos não tomei conhecimento. Uma rápida pesquisa na internet nos retorna com colocações pontuais em fóruns ou blogs, mas não muito abertas à colaboração. Ao final estarei postando alguns links que nos ajudarão no estudo desse, que creio ser um tema pertinente não só à metodologia do EAD, mas ao modelo educacional brasileiro em conjunto com o sistema prisional.

Claro que de certa maneira, o EAD no Brasil é novo, mas tanto se fala de oportunizar condições dignas e humanitárias em prisões pelo país e em nada se trabalha para proporcionar o capital intelectual aos detentos. É necessário analisar inicialmente a infraestrutura do sistema como um todo, que encontra-se em estado caótico diga-se de passagem, mas que deveria ser pensado em conjunto com a educação nas prisões pelo país. Porque não uma instituição federal de EAD dentro do sistema prisional?

Além disso, seria necessário que novos meios de controle de acesso dos detentos aos meios de EAD fossem trabalhados. Convenhamos que ninguém ficaria confortável com Fernandinho Beira-Mar estar com acesso à internet. Não estou de maneira alguma julgando a conduta dele utilizar ou não os meios de acesso ao ensino para negociações de drogas. Mas em seu caso, precaver é o melhor remédio.

Enfim, não sou a pessoa mais adequada para apresentar os prós ou até contras essa situação do EAD no sistema prisional brasileiro. Temos colegas muito mais adiantados no estudo das metodologias e nuances do EAD.

Mas acredito que a integração do estudo a distância com um novo modelo prisional poderia proporcionar grandes ganhos sociais no país como novos instrumentos de ressocialização e reinserção social dos detentos.

E você, o que acha disso?
Concordas ou não? Deixe seu comentário.
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Para maiores informações sobre esses casos e o ensino EAD no sistema prisional acesse:

Propostas para melhorar nossa educação a distância

A educação a distância está modificando todas as formas de ensino e aprendizagem, inclusive as presenciais, que utilizarão cada vez mais metodologias semi-presenciais, flexibilizando a necessidade de presença física, reorganizando os espaços e tempos, as mídias, as linguagens e os processos. EAD tem significados muito variados, que respondem a concepções e necessidades distintas.
Podemos avançar muito na personalização das propostas, mais abertas, com forte aprendizagem colaborativa, em redes flexíveis e respeito ao caminho de cada um. Na EAD o aluno poderia ter seu orientador, como acontece na pós-graduação. Esse orientador seria o principal interlocutor responsável pelo percurso do aluno, com ele definiria as disciplinas mais adequadas, as atividades mais pertinentes, os projetos mais relevantes. Teremos cursos mais síncronos e outros mais assíncronos, alguns com muita interação e outros com roteiros predeterminados, uns com mais momentos presenciais enquanto que outros acontecem na WEB. Essa flexibilidade de processos e modelos é fundamental para avançar mais, para adequar-nos às inúmeras possibilidades e necessidades de formação contínua de todos.


Diante da dificuldade muitos alunos em adaptar-se ao processo de aprendizagem a distância, vale a pena pensar em propostas que implantem a metodologia da EAD de forma mais progressiva. Cursos a distância com alunos com maiores dificuldades (em média) de autonomia - ex: EJA, cursos técnicos, tecnológicos, graduação de cursos com alunos com pouca fluência de leitura, escrita e pouca independência pessoal - poderiam ter um processo de entrada mais suave na EAD. Começar com uma ambientação tecno-pedagógica para a EAD mais forte, feita presencialmente em parte, em laboratórios, com bastante mediação tutorial.
O primeiro ano desses cursos teria uma carga horária presencial maior do que a habitual, haveria mais encontros presenciais, mais tutoria local, mais aulas ao vivo junto com as demais atividades online, só que em quantidade menor, nesse primeiro ano.

Com esse ano de transição entre o modelo presencial e o a distância, o aluno estaria melhor preparado para enfrentar os desafios de caminhar para uma maior autonomia, para poder gerenciar melhor o seu tempo, para trabalhar mais virtualmente. Assim, a partir do segundo ano, aumentaria a virtualização do curso, com menos encontros e tutoria presenciais e mais orientação e atividades pela WEB.

No primeiro ano, as aulas seriam mais informativas, ao vivo ou por videoaulas fáceis, com histórias, representações, entrevistas. As atividades poderiam ser feitas em pequenos grupos presencial e virtualmente, para aprender juntos, dar-se apoio, manter vínculos, não desistir. Progressivamente haveria mais leituras, atividades mais complexas individuais e em grupo, pela WEB.

Cursos de formação de professores, que hoje utilizam mais a WEB, poderiam incorporar videoaulas ou teleaulas interessantes e motivadoras, como elementos enriquecedores da experiência de aprender online. Os cursos que se baseiam em textos na web, mesmo que bem produzidos e em tom dialógico, exigem um salto cultural grande demais, num primeiro momento, para alunos vindo de escolas pouco exigentes e que não desenvolveram o hábito da pesquisa contínua e produção autônoma.

É interessante a organização de aulas produzidas de forma mais inteligente e econômica, principalmente na formação de professores. As universidades públicas, através da gestão da UAB – Universidade Aberta do Brasil – poderiam criar materiais, principalmente os audiovisuais, de forma integrada, gastando menos recursos na produção e concentrado-os mais na tutoria e na adaptação à realidade regional. Universidades com mais competência reconhecida em algumas áreas fariam essas produções de videoaulas e do material de apoio básico (livros...) que serviriam de base para os cursos semelhantes de outras instituições e que poderiam ter algumas adaptações regionais, aproveitando a maior parte da produção já feita.

Em EAD não precisamos todos fazer tudo. A especialização pode baratear enormemente os custos, sem diminuir a qualidade. Esses materiais poderiam estar disponíveis no portal do Ministério para todas as instituições públicas e privadas. O dinheiro de educação é pago com os nossos impostos e se um material pode ser útil para muitos, por que não disponibilizá-lo? A educação a distância não é só conteúdo pronto, mas conhecimento construído a partir de leituras, discussões, vivências, práticas, orientações, atividades. Disponibilizaríamos os materiais básicos e cada instituição os adaptaria ao seu projeto pedagógico. Por que todos temos que fazer os mesmos materiais sempre de forma isolada, principalmente na formação de professores?

Nos cursos presenciais poderíamos também flexibilizar a relação presencial-digital de forma progressiva. No primeiro ano, as atividades aconteceriam mais na sala de aula. Haveria uma ênfase maior na aprendizagem do uso das tecnologias digitais feito no laboratório até o aluno ter o domínio do virtual e poder fazê-lo a distância. Algumas disciplinas teriam no máximo, nesse primeiro ano, vinte por cento de atividades a distância. Do segundo ano em diante, a porcentagem de EAD poderia aumentar até chegar a metade em sala de aula e metade a distância (sem ultrapassar a carga total de vinte por cento a distância, enquanto não mudar a legislação vigente).

Nos modelos WEB é importante utilizar mais a videoaula, a teleaula, a web-conferência e o uso também de tecnologias móveis.
Nos modelos teleaula convém ter menos aulas expositivas e melhorar a produção, combinada com atividades significativas em sala e na WEB. Nestes modelos precisamos aproveitar melhor os recursos da WEB e as tecnologias móveis.

Caminhamos rapidamente para poder aprender em qualquer lugar, a qualquer hora e de muitas formas diferentes. Aprender quando for conveniente, com ou sem momentos presenciais, mas sempre com a possibilidade de estarmos juntos, de aprender colaborativamente e de construir roteiros pessoais. Com a riqueza de mídias, tecnologias e linguagens, podemos integrar conteúdo, interação, produção tanto individual como grupal do modo mais conveniente para cada aluno e para todos os participantes.

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O texto completo está disponível em http://www.eca.usp.br/prof/moran/propostasead.htm . 
Está baseado em Modelos e avaliação do ensino superior a distância no Brasil, da minha autoria, e publicado na Revista ETD – Educação Temática Digital da Unicamp, Vol. 10, Nº 2, 2009

Debatendo o Ensino EAD

Meu nome é Calebe Salvia de Sousa, sou administrador de empresas, tutor EAD no curso de Adm da Anhanguera no polo de Novo Hamburgo/RS e coordenador acadêmico.

Estou cursando esta pós e achando muito interessante a metodologia que está sendo empregada, principalmente na tarefa, uma vez que instiga os alunos do curso e nossos  colegas a interagir no sistema a distância. E isso ocorre dentro das próprias tecnologias que estão sendo estudadas e que lhe possibilitam.

É o real aprender na prática. E aqui vale algumas considerações.

Em momento que a internet vem se torna o presente e o futuro de qualquer cidadão, nada mais óbvio que o ensino a distância se desenvolva usando das suas melhores ferramentas.
E nisso mergulhamos!

Me sinto privilegiado em fazer parte de tão grande instituição que tenho certeza que está mudando vidas por esse Brasil. Vejo no convívio com os alunos da graduação, a satisfação desses em estar em um curso de nível superior.

Quantos deles acreditam que será mais um curso. Sim, porque muitas são as instituições que degradaram e continuam degradando o modelo do ensino a distância. Mas quando esses mesmos alunos veem que a qualidade que buscamos, digo buscamos porque faço parte disso,  é em prol do desenvolvimento do próprio aluno, um sentimento de realização pode ser notado em uma simples entrega de uma atividade de aula.

E é disso que amo fazer parte.

De um modelo promissor, dinâmico, instigante e midiático que possibilita a muitos alunos no país saírem da periferia da massa pensante e porque não das periferias das grandes e pequenas cidades.

Me orgulha saber que faço parte de um movimento nacional pelo saber, e que: enquanto muitos catedráticos se aninham em grandes salas para estudar soluções para a educação brasileira; enquanto muitos governos e políticos se engalfinham em discussões sobre o caos na educação; enquanto muitas instituições brincam com quem quer aprender; e enquanto a super-ultra-mega e por vezes utópica salvação da educação brasileira não vem; eu, meus alunos, meus colegas e professores, estamos aqui, fazendo a nossa parte, fazendo a diferença.

Brincando com os termos da minha área, a administração, digo que isso é o ativo intangível da educação, ou seja, bens não palpáveis que não têm representação física imediata.
Porque nisso trabalhamos.

Somos engenheiros, arquitetos, pedreiros, serventes do futuro de nossos alunos. Do futuro do nosso país.

Isso me orgulha. Isso me completa. Isso sou eu.

ISSO É VOCÊ!!